15 de janeiro de 2000. Lá estava eu no altar da Igreja da Sagrada Famíla, em Casa Forte, vestido de noivo.
Padre Edwaldo começou a cerimônia com seu inesquecível aviso:
– Desliguemos nossos celulares!
E eu esperando a parte mais importante, quando ela olhou para mim e disse:
– Sim.
A gente tinha combinado que, quando o padre disesse que o noivo podia beijar a noiva, o beijo ia ser na boca.
– Não gosto desse negócio de beijo na testa. Parece que a mulher está se submetendo ao homem – disse a minha noiva feminista.
Por mim não havia problema. Não queria ninguém para se submeter a mim mesmo. A nossa parceria sempre foi baseada na igualdade. Embora a ideia da imigração tenha sido minha, jamais teria saído do Brasil se ela tivesse dito não.
Enfim, o beijo seria na boca.
Só que eu não sabia que, durante a sessão de maquiagem, decidiram que deviam trocar o batom planejado por um vermelho, daqueles que mancham tudo mesmo.
E nós não nos vimos mais até nos encontrarmos no altar (dá azar, né?).
Enfim, peguei-a pelo braço e fomos em direção ao padre.
Ela sussurrava entre os dentes:
– O beijo é na testa! O beijo é na testa! – achando que a mensagem havia sido recebida.
Eu não entendi nada e achei que não era nada de importante. Talvez só nervosismo da parte dela. Quem sabe estava falando que estava “feliz com a festa”.
Na hora do beijo, nem pensei duas vezes. Taquei um beijo na boca! Pela cara dela, sabia que algo estava errado. O padre caiu na gargalhada:
– Vamos dar um tempinho pro noivo limpar a boca que ela tá todo melado de batom…
E assim começava a nossa união. Selada com um batom que não saía por nada no mundo, por mais que eu esfregasse o lenço na minha boca…
O casamento aconteceu logo pela manhã. Foi difícil para a noiva se aprontar (mas teve tempo até de mudar de batom!). O padre, sempre pontual, já estava na porta da igreja perguntando pela noiva quando o carro apontou na praça de Casa Forte. Mas por outro lado, foi ótimo porque sobrou muito tempo para festejar com os amigos. Da igreja, seguimos para a Casa Rosada, casa de recepções no bairro do Rosarinho, para receber os nossos convidados.
A festa foi bonita. Nossos amigos e parentes estavam lá. A única coisa que eles não sabiam (e talvez só estejam sabendo agora) é que nós já estávamos casados havia 7 meses! E o motivo foi o nosso processo de imigração.
Voltando um pouco no tempo…
Quando comecei a me interessar pelo processo em fim de 98/início de 99, uma grande dúvida veio logo à tona. Como faríamos para submeter um processo só para os dois, se não éramos casados? Imagina mandar dois processos separados e um ser aceito e o outro não! Sem falar que os custos eram maiores.
Àquela altura, já sabíamos que queríamos construir a vida um com o outro, mas não havia pressa. Não era a hora ainda já que ainda estávamos lutando pelo nosso espaço no mercado de trabalho, começando a construir as nossas vidas profissionais.
Conversamos com meus pais e meus sogros sobre o assunto. Meus sogros pediram que nós fôssemos discretos até o dia do casamento religioso. Pediram que a gente não contasse a ninguém sobre o casamento até que a cerimônia religiosa tivesse acontecido. Resumindo, o combinado foi fazer a cerimônia civil primeiro, dar entrada na papelada do visto e continuar a vida como se nada tivesse acontecido e fazer a cerimônia religiosa quando tivéssemos o resultado definitivo sobre a viagem. E assim fizemos.
10 de junho de 1999. Lá estávamos nós, no centro do Recife, prontos para a cerimônia civil. Auditório cheio de casais, uns emocionados, outros eram uma pilha de nervos. Tinha tudo: noivo de calça jeans, noiva toda de branco, véu, grinalda e… mini-saia, enfim, uma experiência única.
Terminada a cerimônia, fizemos um jantar com as duas famílias e depois… cada um seguiu para a sua casa! Isso mesmo! E assim tocamos a vida por todos aqueles meses, vivendo como noivos, aliança na mão direita, cada um na casa dos seus pais, sem ninguém saber que já estávamos casados. Tinha até que pedir permissão aos sogros pra sair nos finais de semana… com a minha esposa!
Enfim, com a certidão de casamento em mãos, pudemos finalmente dar entrada no processo de imigração juntos. E os sete meses entre o casamento civil e o religioso passaram rápido. Depois do casamento na igreja, finalmente tivemos direito à nossa lua de mel, na maravilhosa ilha de Fernando de Noronha. Passamos 3 meses morando de maneira improvisada num apartamento que Papai havia comprado mas que não estava sendo utilizado. E desse ponto em diante, o foco foi a preparação para o voo só de ida.
15 de janeiro de 2016. Aqui estamos nós, 16 anos depois. Ainda juntos nessa empreitada. E se tivesse que casar com ela pela terceira vez, casaria sem pensar duas vezes!