Uma particularidade da nossa imigração foi o fato de nenhum parente ter vindo pra cá conosco. Nem durante a nossa imigração, nem antes, nem depois. Fomos sempre nós dois. Com a chegada dos filhos, passamos a ser três, e por fim, quatro.
Nem pai, nem mãe, nem irmão. Nem primo de primeiro grau, de segundo, ou de terceiro. Em se tratando de família, o fato é que passamos esses quase 17 anos aqui sozinhos (tirando as frequentes visitas dos parentes, é claro). E a perspectiva é de que assim continue.
E nessa época de festas natalinas, família faz uma falta danada.
Eu vejo aqui as pessoas reclamando que tem que ir pra casa de um, casa de outro, passar a noite de Natal com a família delas e o dia de Natal com a família do parceiro… e eu caladinho.
Até mesmo os imigrantes. Muitos vieram para cá ainda pequenos e vieram com os pais. Outros vieram com uma parcela ainda maior da família (tios, avós, primos, etc.). Há ainda os que trouxeram a família depois que chegaram aqui. Chega essa época do ano e tá todo mundo correndo de um lado pro outro, tem que fazer uma torta, comprar não sei quantos presentes, um corre-corre daqueles.
Fico só observando essa correria, a mesma que costumávamos ter no Brasil, e fico comparando com a relativa calmaria que são as nossas festas de fim de ano. Sempre tem um prato para levar para a casa de alguém, um presente de um amigo secreto, mas nada que se compare ao ritmo do Natal dos tempos de antes da imigração.
A não ser quando temos a chance de passar o Natal no Brasil. Aí sim, é aquela festa.
As famílias se reúnem. É aquela festança. O amigo secreto pode ficar tenso, principalmente quando as regras permitem roubar o presente de alguém. Mas no final, é tudo uma grande brincadeira. O peru de Natal não pode faltar. Brindar o ano que vai chegar com os entes queridos também não tem preço. E tem sempre aquela rodada de cerveja para colocar a conversa em dia.
O Natal de 2001 foi particularmente memorável. Havia saído da Nortel e não havia ainda achado um novo emprego. Com o futuro indefinido, não é difícil imaginar que estávamos passando por uma fase bastante difícil. Muitas incertezas e nuvens carregadas no horizonte. Nada melhor do que estar perto dos entes queridos, recarregar as baterias e voltar ao campo de batalha.
Quando ficamos por aqui mas alguém vem nos visitar, a agitação também é grande.
Sempre tem a graça de brincar na neve com os sobrinhos, deslumbrados pela novidade do cenário que no Brasil só se reproduz com algodão. Para quem gosta de compras, a atração fica por contas das inacreditáveis queimas de estoque no Boxing Day. 50, 60, 70, 80% de desconto.
O Natal de 2004 foi marcante. Naquele ano, tivemos sem dúvidas um Natal especial. Mas não foram as crianças que fizeram a festa na neve. Foram os marmanjos. Fizemos guerrinha de neve e tentamos até construir um escorregador no gelo. Pena que com o nosso peso, afundávamos na neve e não saíamos do lugar. Mas valeu a brincadeira.
No entanto, quando ficamos por aqui, quietinhos no nosso canto, é que percebemos que temos uma outra família: a nossa família formada pelos amigos que fizemos aqui.
Já passamos tantas vezes o Natal na casa de outras pessoas assim com já tivemos tantas famílias diferentes passando as festas conosco na nossa casa.
Como já relatado, o primeiro Natal no Canadá (o do ano 2000) também foi muito especial, principalmente pelo carinho recebido na chegada. Parecia que seria um grupo que estaria junto para sempre.
Com o tempo, as mudanças, as aproximações e os afastamentos naturais da vida, esses grupos foram mudando. Cada um foi seguindo o seu caminho. A vida tem dessas coisas. Mas sempre tivemos a graça de ter amigos por perto.
No entanto, é preciso também se preparar para o fato de que nem todo ano teremos aquelas festanças tradicionais. Às vezes, principalmente quando muitos amigos viajam para o Brasil, apenas algumas famílias se juntam. Essas reuniões menores também são muito legais. Dá pra conversar mais, sem o caos de uma festa maior. Enfim, o importante na cabeça do imigrante é ter essa força, esse pensamento positivo para encarar as coisas da melhor maneira possível.
Faz parte do preço que se paga pela imigração passar tantas datas importantes sem a família. Mas, de uma forma ou de outra, sempre estamos em família.