A Comunicação Com A Terrinha

Uma das maiores mudanças na vida do imigrante é a falta de contato com as pessoas queridas. A não ser que, ao contrário da gente, você esteja imigrando com a família toda. Nós não tivemos essa sorte. Nem pai, nem mãe, nem irmão, nem primo, ninguém. A família permaneceu toda no Brasil. Nos primeiros anos, a família era só nós dois. Com a chegada dos filhos, a casa foi ficando mais cheia. Mas sempre bate a saudade daquele contato constante com os entes queridos. Tantas festas de aniversário, de formatura, de casamento perdidas!

E não podemos reclamar muito. Hoje em dia, a tecnologia está definitavemnte do lado do imigrante.

Fico imaginando as pessoas que tiveram a coragem de sair do país quando comunicar-se com as terras tupiniquins era bem mais difícil. E bem mais caro. Corajoso era aquele imigrante que escrevia uma longa carta a mão, esperava semanas para que ela chegasse no Brasil e outras tantas para receber a resposta.

E pensar nos caríssimos telefonemas internacionais. Aqueles em que a família toda se reunia e ficava sentada ao redor do telefone. Quando o telefone tocava, era aquele frenesi. Todo mundo falava bem rápido e passava para o outro. O telefone passava de mão em mão só para que a pessoa que estava longe pudesse brevemente ouvir a voz de todos os presentes.

Era um tal de:

– Oi fulaninho, tudo bem por aí, né? Vou passar pra vovó pra você ouvir a voz dela!

– Oi meu filho, tá gostando de tudo por aí? Vou passar pra seu tio pra ele falar com você!

E assim o telefone rodava a sala toda (se tivesse um fio grande o suficiente; caso contrário a família ia se revezando na área próxima do telefone. Pelo menos esse problema foi resolvido com os telefones sem fio.)

Até que alguém finalmente dizia:

– Vamos desligar porque senão essa ligação vai ser uma fortuna! Tchau!!

Outra tática era passar uma mensagem bem rápida ao invés de dizer o nome de quem estava falando, como no vídeo abaixo (o interessante é que o comercial é de uma empresa de seguro de carro, não de uma operadora de telefonia):

Nós tivemos bem mais sorte. No ano 2000, quando nos mudamos, os computadores já estavam começando a dominar a comunicação mundial. A internet já havia deixado de ser uma ferramenta de pesquisa nas universidades e se popularizava para uso pessoal e comercial. E assim, pudemos contar com ferramentas imprescindíveis de comunicação.

No início, era o ICQ. Isso mesmo! Quem não lembra daquele Uh-oh! Era alguém chamando você para conversar. Lembra?

Naquela época, surgia também uma novidade que era o sonho de todo imigrante: a vídeo-conferência. O NetMeeting permitia que a gente se visse e conversasse ao vivo. Pelo menos na teoria. Na prática, era um processo penoso com várias tentativas, ligações perdidas, imagens congeladas e borradas, e vozes robóticas. Mas, ainda assim, estávamos nos comunicando com a terrinha ao vivo e (às vezes) em cores!

No seu auge em 2001, o ICQ chegou a ter 100 milhões de usuários ativos. Eu, como detesto mudar de ferramanta, fiquei no ICQ até onde pude. Até que todo mundo havia migrado para um tal de… Messenger. Era a Microsoft mais uma vez investindo pesado nas ferramentas de internet e tomando conta do mercado. Pelo menos o Messenger (que depois virou MSN, depois Windows Live Messenger, ou algo assim) trazia uma grande novidade: aos poucos foi integrando a conversa escrita, de voz e com vídeo eu uma única ferramenta.

Quando a conexão estava muito ruim, ou quando a data era muito importante para arriscar, os cartões telefônicos quebravam um baita de um galho. Comprados a um preço fixo, tinham um número de minutos baseado no local para o qual você estava ligando. Pelo menos as ligações de aniversários, Páscoa, Natal, etc não ficavam comprometidas pela qualidade da conexão da internet.

Os cartões telefônicos também já ficaram obsoletos. Hoje, temos um número virtual no Brasil. Os amigos e parentes ligam para um número local e entram num menu. De lá escolhem se querem rotear a ligação para o telefone de casa, o meu celular ou o de Guida. Fiquei tão empolgado com a inclusão dos celulares nesse plano que liguei para a Rogers, minha provedora de internet, TV e telefone, para cancelar o telefone fixo.

– Finalmente estou entrando no século XXI – pensei.

Mas os avanços da telefonia e ferramentas de mensagens eram só a ponta do iceberg. A revolução estáva só começando. Faltava o ingrediente que integraria todo mundo de uma vez só: as redes sociais.

Um belo dia, disseram pra eu  entrar num tal de Orkut, que era muito bom, que você encontraria seus amigos de longas datas, etc. E foi mesmo. Achei tanta gente com quem nem pensava que teria contato novamente. Amigos de infância, do segundo grau, da universidade, da casa da praia, do Canadá… todo mundo tava ali! Eu agora sabia da vida de todo mundo! Quem casou, quem separou, quem teve menino, quem tava feliz, quem tava na fossa, quem tava com raiva de quem. Err…. que maravilha…

O brasileiro amava o Orkut. Tanto que em 2008, a Google transferiu as operações do site para o país. Com o declínio do Orkut, a Google já estava de olho no lançamento do Google+ (esse sim poderia sair do ar e ninguém notaria) e o Facebook tomou as rédeas das redes sociais no Brasil. Pra mim, não fez muita diferença. O “face” continuou a me dar os updates diários sobre os meus amigos, os de longas datas e os mais recentes.

A revolução continuou com a migração de todas essas ferramentas para os telefones celulares.

Os aplicativos de conversa por voz, assim como os de video-conferência mudaram o panorama da telefonia mundial. Já usamos vários, do bom e velho Skype até o WhatsApp, passando por Viber, Hangouts, etc. O FaceTime eu uso muito pouco já que a família no Brasil optou por telefones que rodam Android. E vamos e venhamos, esse negócio de chamada de video o tempo todo pode se tornar num negócio bem inconveniente, principalmente na hora de ir ao banheiro…

Como nem sempre é possível estabelecer uma conexão em tempo real, as pessoas estão optando pelas cada vez mais populares mensagens de voz. No Brasil então, um plano de dados deve ser muito mais barato do que as ligações convencionais. Na minha última passagem pela terrinha, pude testemunhar o mais novo uso dos celulares: o bom e velho walkie-talkie. Como eu estava com tempo de sobra, ficava observando a nova onda de comunicação. Lá vinha uma jovem apressada. Tirou o telefone do bolso e mandou a sua mensagem:

– Numseiquelá, numseiquelá, numseiquelá…

Só faltou dizer “câmbio” ao terminar a mensagem. Aguardou alguns segundos e:

Plim!

Chegou a resposta.

Ela colocou o telefone no ouvido. Fez uma cara de quem não gostou do que ouviu. E seguiu andando apressada enquanto gravava a resposta:

– Numseiquelá, numseiquelá, numseiquelá…

O irônico nessa história toda é que hoje a gente faz tudo no telefone celular… menos falar no telefone!

Pra completar a festa do imigrante, lembra de todas aquelas festas perdidas às quais me referi no primeiro parágrafo do texto? Pois é, elas agora podem ser transmitidas ao vivo. Vários aplicativos já permitem que qualquer usuário transmita um vídeo ao vivo a qualquer hora. (é bom checar se a sua rede Wi-fi está funcionando antes de começar a transmissão pra evitar que o seu planos de dados saia de controle). Fizemos uns testes com a banda de Louisa no Facebook. Os resultados foram muito bons. Mas pra quem perdeu, aqui vai um deles.

Sim, quase ia esquecendo… quanto ao cancelamento do telefone fixo, a Rogers me deu tanto incentivo para manter a linha que saiu mais barato mantê-la do que cancelá-la. Pelo jeito, vou ficar com um pezinho no século XX… mas em compensação, não recebo ligação de telemarketing no meu celular…