O Inglês Macarrônico

Que a língua vai ser uma grande barreira, todo imigrante já sabe. Se migrando para uma país ou região que fala a mesma língua, já temos que nos acostumar com regionalismos, sotaques, etc, imagina quando nos mudamos para um país que fala outra língua. Não tem jeito. A adaptação sempre vai ser demorada.

Um pouco antes da nossa mudança definitiva, eu estava otimista. Afinal, havia estudado inglês por vários anos, desde pequeno. Também fiz umas aulas de reforço quando decidimos sair do país. Enfim, estava confiante.

Mas a realidade foi bem diferente…

Sheep, ship, cheap, chip. Meu professor de inglês já me chamava a atenção… quatro palavrinhas parecidas, mas que têm significado bem diferentes. O pior é que a gente pensa que a pessoa finge que não está entendo por má vontade. Se eu estou falando da velocidade do meu computador novo, claro que eu quis dizer chip e não sheep, ou ship, ou cheap. Mas o problema é que, para a pessoa que não espera esses erros de pronúncia, a frase errada não faz sentido algum. Imagina alguém chegando pra você e dizendo:

– Comprei um computador novo. Ele tem ‘uma ovelha’ muito rápida!!

Confusão total!

Ou, ao chegar numa fazenda, você quer elogiar os animais cheios de lã e manda essa:

– Que navio lindo!

Vai dar um nó no juízo do cara.

Confira as pronúncias destas 4 palavras e vejam como são diferentes:

Pronúncia de “sheep”:

Pronúncia de “ship”:

Pronúncia de “Cheap”:

Pronúncia de “Chip”:

A insistência em usar termos em inglês misturando com o português também não ajuda. Só porque alguém decidiu chamar um centro de compras de shopping center, e depois abreviar para xópingue porque o nome original era muito longo, não siginfica que vai fazer sentido em inglês.

Let’s go to the shopping – você pode dizer, achando que está abafando. “Vamos para o fazer compras”, foi o que a pessoa entendeu. Não faz sentido. Você pode dizer “let’s go shopping” (vamos fazer compras) ou “let’s go to the shopping center” (vamos para o xópingue).

E o Facebook, que virou “Face”? Se você virar para alguém aqui e disser “I’m gonna talk to you on your face”, (vou falar com você na sua cara) vai levar uma resposta pra lá de mal-criada.

Enfim, esses vícios da aportuguesação do inglês já atrapalham o bastante. Sem falar que ainda temos que conviver com os diversos sotaques… o americano, o inglês, o escocês, o australiano, o indiano, o chinês… e o nível do inglês dos outros imigrantes às vezes é pior do que o nosso!

O imigrante recém-chegado ainda tem que se acostumar em pensar em inglês.

Nossos filhos, por sinal, passam pelo problema inverso quando estão aprendendo português.

– Quantos anos você tem – pergunta uma tia do Brasil.

– Eu sou 4 – responde a criança, pensando na resposta em inglês: “I am 4”.

Por falar em crianças, Louisa até hoje pega no meu pé dizendo que eu não sei pronunciar a palavra year. Ela acha que eu digo ear. Ou seja, na cabeça dela, toda virada de ano eu desejo a ela uma “Feliz Orelha Nova”.

ARGH!

Vejam se vocês notam a diferença:

Pronúncia de “ear”:

Pronúncia de “year”:

O uso do verbo ‘perder’ foi um problema para mim. Como vocês bem sabem, existem dois verbos com o significado de perder em inglês: to miss e to lose. A gente usa o “to miss” quando perdeu a hora pra alguma coisa e o “to lose” quando perdeu alguma coisa que era nossa.

Lá chego eu atrasado na aula e tento justificar:

Sorry guys, I lost the bus – quando claramente deveria ter dito “I missed the bus

Gargalhada generalizada. Eu? Vermelho que só um pimentão. Ainda tive que aguentar um iraquiano gaiato se saindo com essa:

– Você já olhou se o ônibus está no seu bolso??

AAARRRGGGHHH!!!!

As gafes no uso do inglês eram (a ainda são, embora num grau bem menor) constantes.

Um colega nosso, assim que conseguiu emprego, provou uma sopa pela primeira vez na hora do almoço com os novos colegas. Ao invés de usar a palavra soup (sopa), usou a palavra soap (sabão).

– Este sabão está uma delícia, disse ele, para risadagem geral.

Pronúncia de “soup”:

Pronúncia de “soap”:

Aliás, socializar em inglês com os novos colegas de trabalho é um desafio fora do comum!! A rapidez com que eles falam, as constantes trocas de assunto, as referências a fatos históricos, programas de televisão e personalidades do passado que você não conhece tiram totalmente o seu rumo. Ainda temos que levar em consideração o barulho do ambiente, seja uma cafeteria, restaurante ou qualquer outro lugar público. Bem diferente da conversa técnica em uma sala de reunião fechada.

Lembro uma vez que um colega estava me perguntando como era o Brasil e eu comecei a falar das belas praias e tal. Ele começou a elogiar e dizendo que adoraria ir pra lá e tal, mas eu pensei que ele estava sendo malicioso, falando das mulheres e tal e comecei a fazer o maior discurso que isso era um absurdo e tal, que o país merecia respeito. O cara olhou pra mim assustado, tentando entender como eu tinha levado o elogio dele pra esse lado. O motivo do mal-entendido? Ele falou “beautiful beaches” e eu entendi “beautiful bitches”!

Pronúncia de “beach”:

Pronúncia de “bitch”:

Um outro amigo meu diz que a melhor coisa quando você não entende é ficar calar calado e sorrir. (e torcer pro cara não ter feito uma pergunta).

As gafes são constrangedoras, mas fazem parte do processo. Ruim mesmo é quando você comete o deslize no meio de uma reunião. Certa vez, minha equipe estava atrasada em entrar as horas trabalhadas no sistema, o famoso time sheet.

Lá vou eu já perdendo a paciência com o atraso, meu chefe no meu pé porque eles não fizeram isso e enfaticamente lembro a todos:

You have to fill in your time shit!

AAAAAAAAARRRRRRRRRGGGGGGGGGGHHHHHHHHHHH!!

Pronúncia de “sheet”:

Pronúncia de “shit”:

 

JOEL SANTANA

Se você ficou preocupado, achando que o nível do seu inglês não é bom o suficiente para trabalhar fora do país, não se desespere. Joel Santana, que já rodou por diversos clubes brasileiros e também é conhecido como “Papai Joel” pelo bom relacionamento que tem com os jogadores, se aventurou a comandar a seleção da África do Sul entre 2008 e 2009, chegando a classificar a “Bafana Bafana” à semifinal da Copa das Confederações disputada em solo sul-africano.

Com um inglês pra lá de macarrônico, Joel deu entrevistas memoráveis como as dos vídeos abaixo. Mas o importante é que ele conseguiu passar a mensagem… Confiram:

E ainda teve remix!!

5 respostas para “O Inglês Macarrônico”

  1. Hahaha passei muito disso em my old Kentucky home….LOL! Eu explicando que no Brasil acontecia muitos “kidnapkins” e as pessoas achando que nasciam muitas crianças com cara de guardanapo…

    1. Hahaha. Vários amigos também me mandaram as gafes que eles cometeram no exterior. Pelo jeito, vou ter que fazer “O Inglês Macarrônico – Parte II” com essas pérolas de vocês!

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